Quinze Anos
por Tom Coelho
“Há vários motivos para não se amar uma pessoa. E um só para amá-la”.(Carlos Drummond de Andrade)Há uma queixa recorrente e consensual entre as mulheres. Atualmente, estáse tornando uma missão quase impossível encontrar um homem que reúnacaracterísticas como cavalheirismo, inteligência e intelectualidade aosatributos de um autêntico Don Juan, tais como masculinidade, sensualidadee beleza física. Tudo o que elas querem é alguém capaz de tirar-lhes ofôlego, surpreendê-las, fazê-las perder a racionalidade. Mas que depois astraga de volta ao plano terreno, à objetividade e pragmatismo necessários,sem deixar esvair o encantamento.Há também um consenso entre os homens. Nos dias de hoje, há mulheres parase curtir e mulheres para se namorar. E raramente são as mesmas. Aexpressão usual assemelha-se a: “Uma garota como esta não se encontra poraí... Cuide bem dela, mantenha este relacionamento. E aproveite para sedivertir com as mulheres erradas, enquanto isso”.Entre um universo e outro o que os une é a solidão. Mulheres de um lado,homens de outro, compartilhando a vida com amigas e amigos, à espera deserem “tirados para dançar”. Parece que a sociedade moderna nos robotizou,tornou-nos tão mecânicos que perdemos a capacidade de nos apaixonar. E,mais ainda, de amar. Construímos um muro em nosso redor com tijolos deintolerância. Ficamos tão seletivos que ficamos sós.Amar é olhar para outra pessoa e mais do que admirá-la, contemplá-la,observando seus traços, suas feições, seus movimentos e não desejar perdernem um milésimo de segundo, negando-se até mesmo a piscar. É ver a imagemda pessoa amada refletida em outdoors, estampada no rosto de personagensda televisão. É ter uma música em comum que marca um momento especial ouque se tornou especial por apenas representar a lembrança de um momento.Lembro-me de Mário Quintana: “Amar é mudar a alma de casa”.Amar é dialogar, o que significa falar, mas também saber ouvir. Ter asensibilidade para perceber quando o outro precisa apenas dizer tudo e detodas as formas, muitas vezes sem a preocupação de que você estejaouvindo. Basta sua presença. Olhos que sinalizam atenção, silêncio quepronuncia respeito. Acolhimento, conforto, generosidade. Dar como alimentoo carinho.Amar é descoberta. É desvendar sem pressa o passado de quem se gosta nãopela neurose de uma investigação, mas pelo prazer de apreciar aquelahistória como quem ouve um pequeno conto infantil ditado pelos pais aolado da cama.Amar é tolerância, é concessão. Não significa mudar e nem exigir que semude, mas estar disposto a se adaptar e esperar que se faça o mesmo.Ajustar expectativas, alinhar propósitos. È caminhar lado a lado, olhandojuntos na mesma direção, ainda que com visão periférica apurada.Maiakovski pontuou acertadamente: “Amar não é aceitar tudo. Aliás, ondetudo é aceito, desconfio que haja falta de amor”.Amar é transparência, é dizer o que se pensa, sabendo a hora de falar. Énão praticar a omissão achando ser possível empurrar conflitos para sob otapete até que um dia o vento espalhe tudo, maculando o que foiconstruído. Transparência que gera credibilidade, que leva àconfidencialidade, que conduz à lealdade. A lealdade que surge não como umdever, mas como resultado da satisfação do exercício da plenitude, desentir-se completo.Amar é tocar. É beijo que acelera o pulso. Sexo com longas preliminares eaconchego posterior. Dormir abraçado, acordar junto. Filme com pipoca,chuva romântica do lado de fora. Cuidar e ser cuidado. Promessas insanasde juras eternas – a eternidade que se perde num instante. É dividir aliberdade.Amar é superar adversidades, enfrentar o desafio da geografia que, àsvezes, distancia fisicamente dois corações. È sentir a saudade como frutoda partida.Amar é intensidade, é compreender a impermanência do tempo, suarelatividade. Significa rasgar os estúpidos calendários, quebrar osimponentes relógios e compreender que o tempo tem uma outra dimensão. Épreferível um amor intenso de 48 horas a uma vida insípida compartilhadapor uma década.Amar é se mostrar um grande espelho e permitir que o outro possa mirar-seem você. Ver a si próprio enxergando aquilo que é mais virtuoso, maisnobre. É ver de maneira perfeita uma pessoa imperfeita. É buscar oequilíbrio, tomar cuidado com a ansiedade, a angústia, a incompreensão eas cobranças. É ter coragem de também sofrer.Amar é tudo isso e um pouco mais. Ação que não se descreve, mas que sepratica. Coisas que sabíamos fazer quando adolescentes, aos quinze anos,quando éramos mais intrépidos, menos racionais e, por isso, capazes desermos mais felizes.
Tom Coelho, com formação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pelaESPM/SP, especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida noTrabalho pela FIA-FEA/USP, é empresário, consultor, professoruniversitário, escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting eDiretor Estadual do NJE/Ciesp.
“Semeia um pensamento, colhe um ato; semeia um ato, colhe um hábito;semeia um hábito, colhe um caráter; semeia um caráter, colhe um destino”.(Marion Lawense)
texto enviado por: Gesiane Peroni
2 comentários:
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